quarta-feira, 4 de março de 2009

CONEXÃO VIVO - UMA RADIOGRAFIA DA NOVA ORDEM MUSICAL

Salve Povo do BEN!

Numa relax, numa tranquila, numa boa???

Saiu um post no portal do Conexão VIVO onde o Israel do Vale cita a gente, segue ai o texto.

No mais... aquele abrAÇO

Yuga

CONEXÃO VIVO - UMA RADIOGRAFIA DA NOVA ORDEM MUSICAL

Israel do Vale comenta sobre editais e curadorias de música



Participo com frequência de júris e curadorias de projetos musicais e audiovisuais. e não canso de me espantar com a capacidade de renovação da cena independente brasileira,
sobretudo na área da música.

Nos últimos sete/oito anos tive o privilégio de [vi]ver de dentro o martírio de ter de optar entre o muito bom e o ótimo, nos funis dos processos de seleção de prêmios e editais.

E vejo, abismado, como se multiplicam os caminhos e projetos estéticos --reflexo direto do barateamento dos meios de produção e das facilidades de se fazer música [e vídeo] caseiramente, com o sem-número de ferramentas gratuitas disponíveis na rede.

Um dos [bons] infernos destes tempos é o crescimento exponencial no número de concorrentes. Só para se ter base, em 2001/2002, fase em que assumi a curadoria do projeto Prata da Casa, do Sesc Pompéia, em são paulo, a "ana/lógica" do envio de
material físico [release impresso do artista, CD, DVD] para avaliação acabava funcionando como um "inibidor de apetite" e reduzia naturalmente a quantidade de candidatos.

Nesta época, a média de audições demandadas pelo projeto girava em torno de 120 artistas por mês –para selecionar oito... de lá pra cá, a relação candidato/vaga nos
vestibulares da música endureceu mais ainda.

Editais como os dos centros culturais da Caixa Econômica Federal demandaram semanas de trabalho solitário de cada um dos jurados e cinco dias de internação num hotel em SP para a análise de centenas de propostas.

O Rumos Música [a mais cuidadosa e abrangente cartografia da área no brasil, produzida pelo Itaú Cultural] também nos manteve em clausura num hotel paulista durante cinco dias, por dez horas a fio. mas num e noutro, o sistema de seleção ainda foi “analógico”.

Minha estréia na dinâmica digital de avaliação de candidatos começou no final do ano passado, com um batismo relativamente suave, no festival Httpsom, uma dobradinha do Instituto Sérgio Motta [SP] com o Myspace. dos cerca de 300 inscritos, coube ao
júri da reta final avaliar 48 finalistas –para extrair três vencedores...

Relato isso tudo para assinalar o contraste com o que vivi esta semana, na curadoria do Conexão Vivo, projeto modelo de prospecção de novos artistas, que pela primeira vez atravessa as fronteiras das Minas Gerais para ganhar dimensão nacional.

Dos cerca de 1900 pré-inscritos, tiveram suas candidaturas concluídas e validadas, ao todo, 1.666 artistas e/ou bandas –a avassaladora maioria com trabalho autoral.

Vencido o filtro inicial [a cargo de uma comissão formada por nove pessoas], os quatro curadores avaliaram os 240 ++. a missão era extrair daí os 20 nomes que irão disputar cinco eliminatórias por cidades do interior de minas, além de campinas.

Delas sairão os premiados com a oportunidade de se apresentar ao lado de 30 artistas de destaque na cena mineira já patrocinados pela Vivo, que dividirão o palco com atrações de renome nacional.

O ponto em questão é: de um universo de 1.900, ficam 20 [na verdade, com a “reserva técnica” de segurança, nossa missão era chegar a 28, oito deles para o banco de reservas desta nobre seleção canarinho.]

É uma loucura sim. e por mais que [importante frisar!] dois terços do que circula nestes ambientes tenha pouquíssimos méritos [ou, de outra forma, seja realmente ruim...], há ainda um terço de trabalhos com grande valor artístico.

Ok, uma peneira mais fina adiante logo separa o joio dos que estão apenas reproduzindo fórmulas [alguns muito bem, aliás] do trigo dos que realmente estão perseguindo um caminho próprio e de fato autoral. e a verdade é que raramente isso chega a 10%.

Extrair 20 de 1.900 seria, portanto, garimpar apenas 10% destes 10%. ou seja, na seleção natural de um projeto importante como o Conexão Vivo, apenas 1% dos inscritos sobrevivem. o que, evidentemente, gera sempre muita insatisfação –porque são 99% de não-contemplados e os típicos questionamentos na linha “porque não eu” [prometo escrever nos próximos posts sobre critérios, objetividades e subjetividades dos processos de seleção].

A grande sacada do Conexão Vivo, contudo, é abrir uma janela de intercâmbio e relacionamento que está acima e além do evento ou do “prêmio” em si. É enlaçar uma comunidade de criadores e degustadores de música que se mantém viva e, de acordo com a capacidade de mobilização de cada artista, pode abrir oportunidades que ele[s] não teria[m] no “mundo real”.

Há, todo modo, um ponto essencial ainda: isso tudo está aí pra quem quiser. Mas só sai do lugar quem tem o ímpeto de se mover minimamente. e é capaz de comprar a briga de articular sua própria rede [e, neste quesito, o pessoal do BLACK SONORA tem sido exemplar!].

O básico é o seguinte: não existe linha reta na cena in[ter]dependente. é preciso ter consciência de que os caminhos serão sempre tortuosos, sinuosos, em espiral. e cheios de encruzilhadas. mas como diria o filósofo Chico Science, “um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar”.

Fonte: http://www.conexaovivo.com.br/noticias/conexao-vivo-uma-radiografia-da-nova-ordem-musical

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