terça-feira, 21 de outubro de 2008

Black Sonora: Coquetel Sônico

Salve Povo do BEN!

Confira aí a entrevista com o BLACK SONORA para o site O Disco.

Por Andressa Lopes

De Jorge Ben, Jackson do Pandeiro, Ibrahim Ferrer e Beastie Boys até o pioneiro do afrobeat, Fela Kuti. Influências são muitas. E quem ouvir o som da banda Black Sonora pode pensar "Pô, aí tem samba, tem funk, tem soul, tem rap..." ou então "Brasileiro, cubano, norte-americano ou africano? Que som é este?".

O que não impede de reconhecer na música desses meninos coerência e identidade própria. Para ouvir, dançar, cantar junto. Na praia, na casa de show, no carro e em casa.
Foram essas as impressões que tive na primeira vez que assisti a um show do grupo e, recentemente, quando, antes de entrevistá-los, assisti a parte da passagem de som.

Gustavo Negreiros (voz e guitarra), Ronan Teixeira (bateria), Bruno Lima (percussão), Luciano Andrei (percussão), Rubén Cubanito (voz e percussão), DJ Yuga (samplers e intervenções), Helton Rezende (guitarra) e Luiz Prestes (baixo) referenciam e reverenciam nomes da música negra nacional e internacional.

O que eles querem é romper fronteiras. Levar o seu som a um maior número de pessoas possível. Na batalha, inscreveram-se e foram selecionados para participar da 2ª etapa do Gas Sound, concurso de bandas patrocinado por uma marca de refrigerantes e exibido pela RedeTV!.

Um dos assuntos da entrevista foi a participação da banda no programa.


GAS SOUND

E a participação no Gas Sound? Como vocês foram parar lá?

Gustavo: A verdade é que a gente é meio fominha. Assim, nesse esquema de correr atrás de festival mesmo, de pesquisar na internet...

Ronan: De se inscrever em tudo.

Gustavo: E esse foi um dos festivais de que a gente ficou sabendo. A gente não. O Yuga ficou sabendo. Ele fez a inscrição pela internet. Você montava um perfil, fazia o upload lá de duas ou três músicas, de um vídeo e informava o endereço do seu site. De repente recebemos um e-mail assim: "Vocês foram selecionados entre as dez bandas que vão participar da eliminatória de BH". Eu nem estava sabendo ainda como era o festival. Aí, quando eu fui conhecer, saber do que se tratava, descobri que seria exibido pela TV, que, se formos para a final, vamos ter que ficar até confinados. Pensei: "Nó, esse negócio é esquisito".

Mas ele falou com vocês antes de fazer a inscrição?

Gustavo: Ele já tinha comentado. Mas era, para a gente, mais um tiro, sabe? Fazemos cadastro em todos estes sites: Palco MP3, myspace e em outros aí. Qualquer vitrine que a gente tiver, para alguém poder chegar no nosso som, é legal.

Esse alguém é o público?

Gustavo: é.

Ampliar o público de vocês...


Gustavo: Sim! Tem pessoas que conhecem a gente pelo Trama Virtual. Aí mandam e-mail. Outras conhecem a banda pelo Palco MP3, às vezes pelo myspace. às vezes conheceu num show. Então, qualquer veículo a mais, seja ele a internet ou outro que nos permita mostrar nosso trabalho, é bacana.

Ah, então o programa é como se fosse uma plataforma para vocês se lançarem?

Gustavo: é! é um programa que tem uma visibilidade nacional. Quando passamos da etapa eliminatória de BH e ficamos entre as duas classificadas, recebemos muita mensagem. Do Brasil todo.

Então o público já aumentou...

Gustavo: Querendo ou não, a televisão ainda é o principal veículo de comunicação da sociedade. E é no horário de domingo, antes do "Pânico", que é um programa que tem uma audiência legal. Está sendo muito bacana.


SER INDEPENDENTE


O Black Sonora é uma banda independente? Vocês se consideram independentes? E o que para vocês é ser independente? é só não ter gravadora?


Gustavo: Eu acho que, primeiramente, ser independente é você não ter uma gravadora ou uma estrutura de patrocínio que banque o seu trabalho, a sua divulgação. Então somos, sim, uma banda independente, porque fomos nós quem sempre movimentamos tudo com o nosso esforço. Todos os festivais de que a gente participou, foi porque lutamos para isso. Falamos assim: "Vamos organizar, vamos fazer o CD, vamos escolher as músicas, vamos fazer uma capa bonitinha, vamos mandar, vamos escrever um release legal". A gente sempre teve essa visão um pouco empreendedora mesmo, de a gente mesmo cuidar desse projeto que é nosso. Temos um cuidado muito grande com cada etapa. Tem todo um trabalho diário, né? Para você poder criar novas possibilidades para tocar.

Bruno: O legal da banda também é que, além de tocar, o Gustavo e o Yuga têm a manha de fazer os flyers, o Ronan tem a manha de "silkar" camiseta, eu atuo na área social, o Cubano...

Gustavo: Cada um tem a forma de contribuir com o todo, fora a parte musical. Nesta outra parte que é mais administrativa mesmo e empreendedora. E aí tem o "Tributo ao Tim Maia", que é um evento nosso. Que a gente faz desde 2004 e a cada vez mais sempre conseguimos um convidado legal. O último foi com o BNegão e o Pererê.

Bruno: Totalmente independente.

Gustavo: Acaba que, quando você vai executar o evento, você consegue alguns apoios, mas nenhum patrocínio efetivo.

Mas vocês têm vontade de serem contratados por uma grande gravadora?

Gustavo: Sim. Acho que não cegamente, né? Quando chega até você alguma proposta desse tipo, tem que ser analisada com muito cuidado. Conheço muita banda que foi colocada na geladeira. Assina um contrato com a gravadora de gravar três discos e um contrato de exclusividade. Aí fica presa, a gravadora lança o primeiro disco, que tem uma repercussão que não é a que eles estão esperando, e já não sai mais aquela verba que eles te prometeram para um segundo disco. A gravação do clipe que ia ter já não vai ter mais. Eu vi isso acontecer com algumas bandas. Querer a gente quer, é lógico. Isso vai nos possibilitar gravar um disco com facilidade, com mais qualidade, vai ser uma forma de o nosso trabalho ser divulgado de uma forma muito maior. Mas esse passo tem que ser dado com cuidado, com muita cautela. Eu vejo dessa forma.

Músico independente sobrevive com a música?


Gustavo: Com o cachê de um show, às vezes. Mas não dá para a gente tirar um salário que vai nos possibilitar pagar nossas contas. Ainda está muito longe disso.

No semestre passado eu fiz um trabalho sobre bandas independentes de Belo Horizonte e descobri que a maioria dos meninos exercia outras profissões. O Vlad, do Somba, por exemplo, é professor. E o discurso recorrente era: "A gente quer viver de música, a gente quer tocar, quer cantar e não dá para ficar só com isso".


Gustavo: O Juninho mesmo [Luiz Prestes, baixista] trabalha na Petrobrás. O Bruno até pouco tempo trabalhava no Banco Real. O Yuga é designar gráfico, eu também. Ele está trabalhando em uma agência. Eu trabalhei em agências, mas acabei saindo, porque não dá para conciliar horário sempre. às vezes tem uma passagem de som à tarde. às vezes tem uma proposta de show no meio da semana em outra cidade. Eu estou tentando sobreviver da música e fazendo uns bicos ainda de freelancer na área de publicidade. Todo mundo dá um jeito de levantar uma grana, às vezes tocando num barzinho fazendo voz e violão e percussão ou voz, violão e bateria. Para a gente poder sobreviver mesmo.

Desde que esta formação da banda foi consolidada, em algum momento vocês desanimaram? Pensaram: "Ah, não está dando, vamos parar um pouco". Já passou pela cabeça de vocês desistir da música?

Gustavo: Não.

Ronan: Não.

Bruno: Não.

E como vocês se vêem daqui a dez anos? Juntos? Fazendo shows?


Gustavo: Bom, acho que tem que ser, né? Juntos, fazendo um som.

Na música.


Gustavo: Na música!

Ronan: é!

Gustavo: Mesmo que a gente não conquiste nada mais do que já temos hoje, mesmo que seja dessa forma, eu espero estar daqui a dez anos tocando.

Bruno: Fazendo o que a gente gosta!


O SOM DO BS

Quando crianças, vocês já pensavam em tocar, compor? Ou foi na adolescência? Porque geralmente é na adolescência que isso começa a aflorar, esses desejos despertam, não é?

Ronan: Com nove anos de idade meu pai já viu que eu dava umas batucadas numas latinhas. Aí me colocou numa aula de bateria. Até então, para mim, foi só música. Até hoje faço uns "freelas" para outras bandas. Mas, para mim, foi desde a infância mesmo.

Gustavo: Com uns 15 anos comprei uma batera e tocava rock.

E nessa época aí, quando cada um começou, já estavam próximos da black music?

Bruno: Ah, eu não.

Estava no rock?

Bruno: No rock!

Gustavo: Tudo que é musical sempre me chamou a atenção. Eu lembro que meus tios e meu pai, quando um ia à casa do outro, havia um toque de campainha que todo mundo já sabia que era um dos irmãos. Então essas coisas vão entrando na cabeçada gente desde novo. Comecei a tocar violão com 11 ou 12 anos. Eu via o Titãs na televisão, na época, e pensava "ó, massa!". Aí fiquei conhecendo essas bandas e fui pirando. Comecei a tocar rock. Quando se é adolescente, a gente quer extravasar. Depois vai conhecendo outros sons. Vai conhecendo mais a música brasileira. é infinito, né? Cada som que você conhece te leva a outro. E não pára.

Outro dia ouvi uma entrevista com o Curumin e ele disse que a música que ele faz é samba. E todo mundo fala: "Ele é um alquimista, experimenta, mistura tudo". Mas ele mesmo diz que o que ele faz é samba. Vocês também misturam, bebem em diversas fontes. Fontes que ao mesmo tempo têm uma semelhança estética musicalmente falando e têm características próprias. é possível definir a música do Black Sonora? Dá pra falar: "é isso"?


Bruno: Ah, não.

Gustavo: Hoje eu acho que o nome da banda resume muito esse lance da gente trabalhar entre as sonoridades da música negra. A gente tem praticamente tudo, né? Da música ocidental, que é o jazz, que é o reggae, que é o soul, é o blues, o samba, tudo vem do gueto. Do negro mesmo. A gente fica à vontade para passear por isso tudo. Porque, quando se fala em black music, associa-se a um único som. Existe um estereótipo. E a gente não...

Não, quando eu penso em black music, penso no soul, no funk, no hip hop...

Gustavo: Isso. Mas é porque o termo hoje é usado, em algumas situações, de uma forma mais ligado ao hip hop americano mesmo. Eu acho que a gente não se sente preso a essa coisa do...

Bruno: Não temos a necessidade de rotular.

Gustavo: Porque, a cada música nova que a gente compõe, fazemos de uma maneira, cada uma tem elementos musicais diferentes. E é legal saber que temos muita coisa para compor ainda. E a gente não sabe como essas músicas são, porque elas não existem. Não é, por exemplo, tipo Iron Maiden. Todos os discos deles estão dentro do mesmo conceito melódico. E existem milhares de bandas assim, e que são superlegais também. A gente vai mais para outro lado. Igual mesmo os Beatles, né? Cada disco dos Beatles, por mais que todos sejam rock, todos sejam Beatles, cada um vai para um lado. A cada disco, eles vão se renovando, de referências e discursos.

Ronan: é um laboratório.

Bruno: Até para pôr em prática os novos aprendizados. A gente está sempre aprendendo uma coisa diferente.

E não só os músicos se renovam. Os gêneros musicais também estão sempre se renovando. São dinâmicos, não são estáticos. Os músicos renovam os gêneros, na verdade... O samba, por exemplo. Jorge Ben veio com o samba esquema novo. é samba. Mas é diferente daquele samba lá do Monsueto.

Gustavo: E hoje ele já tem uma outra pegada.

Que é diferente.


Gustavo: Dentro do próprio samba dele, que ele continua fazendo. Tem uma outra roupagem, tem uma outra intenção. Que tem tudo a ver com o início, mas já tem uma outra cara, né? O legal da música é isso. Você se permitir colocar novas coisas, colocar novos instrumentos.

Experimentar...


Bruno: O legal não é ir, tocar, pôr o dinheiro no bolso e ir embora. é ter uma mensagem, uma coisa para passar. E é um momento que você tem o poder da fala, querendo ou não. Tem que ser usado para passar uma mensagem. Se você fala uma frase legal, e, no meio de mil pessoas uma vai embora refletindo, já vale. Música não pode ser vista só com um olhar financeiro. Tem outras coisas que a movem. Outras coisas que dão sentido a ela.

Gustavo: Compor e gravar uma música é uma forma de você materializar uma visão sua do mundo. Quando você ouve músicas da Tropicália, você sente o contexto. Eu acho que a música tem esse papel também, de representar nossa realidade social.

Bruno: Eu vi uma entrevista hoje com o vocalista do Tianastácia. Ele estava falando que é engraçado você fazer uma música dentro do seu quarto e, de repente, ver mais de mil pessoas cantando a música que você fez sozinho. Isso é muito legal. Um dia a gente vai chegar lá também.

Fonte: http://www.odisco.com.br/entrevista_leitura.asp?id=232

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